O curta metragem Balcões da Resistência documenta mudanças na paisagem da cidade de Volta Redonda e hábitos de seus cidadãos a partir da perspectiva dos donos de botecos da cidade, um espaço que habita o imaginário popular, frequentado por flaneurs de diferentes gêneros e classes sociais que a partir de sua entrada tornam-se anônimos. Considerado, por quem o frequenta, como um local de quietude, onde se encontra bebida e comida em preço honesto, onde se pode ficar ao balcão e pensar sobre a vida sem falar com ninguém, local para beber uma dose escondido ou ainda um ponto de parada entre o trabalho e a casa.
A produção do filme foi realizada no ano de 2024 e iniciou-se com visitas informais realizadas pelos roteiristas a diversos botecos da cidade.
“A partir dessas visitas conseguimos chegar a cinco botecos situados em pontos diferentes da cidades: Venda do Galdino, no bairro Retiro; Cascudão Bar, na Vila Americana; SOS Hidráulica, no bairro São Geraldo, Bar do Manoel, na 209 e Enjoados, no bairro Aterrado.” – diz Rodrigo “Djames” Mêda, Diretor do curta.
“Galdino, Leo, Vanderlei, Manoel e Naldo, responsáveis pelos espaços, costuram, assim, uma narrativa que conta, através de suas vivências, como os botecos foram resistindo na cidade de Volta Redonda e como a cidade se transformou ao longo dessa história ao seu redor.” – complementa Renata Andrade, co-roteirista do filme.
O Boteco e as mudanças através do tempo
Da paisagem bucólica das fazendas de café e pecuária à ocupação e expansão da indústria siderúrgica, Volta Redonda passou por diversas transformações urbanas, não apenas pela ocupação industrial, mas também pelo fator humano implicado na ocupação desse espaço com a intensa corrente migratória de pessoas que vinham, seguidas de suas famílias, em busca de trabalho. Essa é a história de como chegou aqui o avô de Galdino, trazendo a tradição das vendas de Minas Gerais para seu negócio. Hoje, visitar a Venda do Galdino é como visitar a um Museu, trazendo, em suas paredes, fotos da história da cidade de Volta Redonda e do bairro Retiro, além de pertences de seus antigos donos, o avô e o pai de Galdino como antigas balanças, máquinas de costura e ferramentas de alfaiataria.
“Trabalhei com meu pai, trabalhei com meu avô. Hoje eles já não estão mais aqui. E hoje eu estou trabalhando com meus filhos.” – diz Galdino (Venda do Galdino)
Também são frutos da migração gerada pela demanda de postos de trabalho na CSN a história do avô de Leo, pescador nascido em Sapucaia, fundador do Cascudão; Manoel, vindo do interior do Nordeste e do pai de Vanderlei. Com mais moradores na cidade, aumenta também demanda por serviços, locais para construir residências e recursos materiais para dia a dia. Foi assim que Vanderlei acabou transformando seu negócio até chegar à SOS Hidráulica, uma loja que tem de tudo, inclusive um boteco nos fundos.
“Aqui nada é coeso, é tudo ao contrário, totalmente desconexo (…) até agulha, se você procurar, acha.” – diz Vanderlei.
Enquanto o número de bares da cidade de Volta Redonda vem crescendo, os botecos vêm sendo fechados pouco a pouco. Muitos dos que resistem, situam-se nos bairros periféricos da cidade e vem sendo passados de geração a geração, como o Cascudão, fundado em 1985 no bairro Vila Americana. Conforme relato de Leo, atual gestor do Cascudão, o nome do bar vem de um feito alcançado pelo seu avô, primeiro dono do estabelecimento, que pescara um peixe cascudo muito grande, assim o nome e logotipo fazem referência a essa proeza.
“Eu já sou o terceiro na sucessão do trono aqui (…) se bobear meu primeiro choro, se não foi no hospital, foi aqui. Sou nascido e criado por esse pessoal todo aqui.” – conta Leo.
Naldo, que começou a história do Enjoados há 40 anos conta que, muitas vezes, pensa em desistir, mas gostaria de passar o espaço para alguém que o mantenha ativo.
“Eu queria deixar esse legado pra alguém, são 40 anos. Meus filhos não querem, mas alguém vai pegar. E eu quero que se dê bem” – diz Naldo.
“Tomara que a gente trabalhe e os outros dêem sequência” – complementa Vanderlei.
Realizado com equipe formada por artistas residentes na cidade de Volta Redonda, a obra retrata as transformações da cidade a partir da memória e subjetividade de seus cidadãos em um local de convívio social que também preserva espaço para manifestação de individualidades.
O curta foi produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo, através de um edital lançado pela Secretaria Municipal de Cultura de Volta Redonda, possui classificação indicativa de 12 anos e tem a duração de 15 minutos. O filme fará pré-estreia para equipe, entrevistados e patrocinadores no próximo dia 9 de dezembro, a fim de que a obra não perca seu caráter de ineditismo e possa participar de festivais de cinema. Posteriormente, sua agenda de exibição será lançada no canal de divulgação de seus produtores Escambo Arte e Caviúna e também no canal criado para o projeto.
Oficina de Roteiro como Contrapartida
Como contrapartida, foi oferecida uma Oficina de Roteiro para alunos do EJA da Escola Municipal Wandir de Carvalho, no bairro Retiro.
“É muito benéfica a aproximação entre cinema e educação. A oficina de roteiro, em especial, fomenta a escrita como uma forma de comunicação, tornando-se assim uma grande aliada da educação. Além disso, fornece ferramentas e incentiva os alunos a contarem suas próprias histórias através de imagens e sons.” diz a roteirista Renata Andrade.
Ficha Técnica:
Direção e Designer Gráfico – Rodrigo Djames Mêda
Roteiro – Renata Andrade e Rodrigo Djames Mêda
Produção – Escambo Arte
Música Original – Pedro Cabral
Direção de Fotografia – Ana Luiza Balarin
Operação de câmera – Rafael Fernandes (RF Filmmaker)
Som Direto – Maria Eduarda Gama Guimarães
Montagem/Edição – Renata Andrade
Mixagem – Raphael Garcêz
Making Off – Pedro Toledo
Assessoria de Imprensa – Xan Braz (Laboratório Produções Artísticas)